ENTREVISTA 3: GABRIEL VAQUER

1- Como começou seu interesse por jornalismo?
Olha, eu confesso que nem pensei em outra coisa na minha vida (risos). Acho que como todo garoto de classe média baixa, veio assistindo ao Jornal Nacional quando era muito criança. Gostava muito de ver reportagens sobre boas histórias. Via todos os jornais possíveis. Via propaganda eleitoral, ouvia programas políticos no rádio. Em 2004, minha mãe assinou uma TV paga local, que era bem baratinha, e passei a ver o mundo com outros olhos. Tive outras vivências, muito novo, ainda com nove anos. Vi documentários da HBO, por exemplo. Acho que foi por aí. 

2- Desde quando você se interessou por jornalismo de televisão?
Foi uma coisa curiosa. Eu sempre assisti muito TV. Sempre. Era o modo babá eletrônica. Consumi muita TV aberta do início dos anos 2000 –não sei se isso foi bom (risos). No mesmo 2004, percebi que a MTV tinha muitas referências à história da TV. Eu descobri o Pânico na TV na RedeTV!, que não pegava via sinal terrestre, e que tinham as mesmas referências –que eu não entendia totalmente, e tinha curiosidade em sacar. Em 2005, minha mãe comprou um computador financiado pelo programa Computador Para Todos, do governo Lula 1. Desde então, passei a ser um ávido pesquisador da história da TV. Como queria trabalhar com TV de alguma forma, sempre achei que eu devia saber a história de onde eu queria me meter. Acho que deu certo. 

3- Há quanto tempo você trabalha cobrindo televisão?
Desde 2012, exatamente. Comecei em um site chamado RD1, quando ainda estava no colégio –pedi uma chance, e me deram. Passei por NaTelinha, TV História, Observatório da TV, UOL e atualmente tenho uma coluna no Notícias da TV, que trabalho com muito orgulho desde 2021. A cobertura de televisão me deu tudo o que tenho hoje e me fez conquistar o sonho da casa própria. 

4- Como você observa a mudança da maneira de se transmitir esporte no Brasil?
Acho que passa muito pelo avanço da tecnologia no mundo. Hoje, a TV paga convencional é como um telefone fixo: quem tem, quer ter por alguma espécie de luxo. A internet tem virado artigo essencial. Hoje, até os logradouros mais afastados precisam de internet de alguma forma. Investir no streaming é certeza de que, em alguns anos, o alcance será muito maior e menos limitado que a TV por assinatura. 
Além disso, também entendo que as gigantes da mídia não comportam todos os eventos, como a Globo já chegou a fazer. É uma questão simples: a conta não fecha porque os investimentos de publicidade reduziram e é mais barato anunciar em mídia programática de internet do que em TV aberta, por mais alcance que ela tenha. A Globo ainda faz um trabalho muito interessante, priorizando o que é importante; a Band conseguiu um modelo de sociedade interessante; o SBT mostrou que é possível ser forte comercialmente fora da líder com futebol. 
A pulverização é muito interessante, abre mercado e possibilidades. É uma tendência mundial. Não poderia ser diferente aqui. 

5- Como você observa o movimento de vários grandes nomes da TV migrarem pro streaming?
Acho que é um movimento natural, decorrente dessa pulverização que há atualmente no gasto de publicidade. Ao mesmo tempo, o streaming precisa de figuras que ficaram populares na TV aberta para atrair grande parte da audiência. A grande sacada deste ano foi da Amazon, que chamou Cléber Machado para narrar a Copa do Brasil. Cléber por anos foi a cara do futebol da Globo e só ficou atrás de Galvão.  Você traz um nome de credibilidade conhecido em todo o país para ligar a Copa do Brasil ao local. Precisa ser assim. Na Amazon, especialmente, porque sua comunicação é muito falha ainda. 

6- Você acredita que esse movimento de grandes nomes para o digital é algo que veio para ficar? A saída das TVs vai aumentar nos próximos anos?
Sem dúvida, principalmente pelo advento da mídia de clubes e da cobertura independente. Para muita gente, compensa mais se dedicar a uma cobertura de mídia independente e ganhar com publicidade, do que se dedicar a ser repórter de televisão –que tem pagado menos para repórteres. Para muita gente, o status de estar na Globo, na Record, na Band, não seduz mais. Um repórter que começa no Esporte ganha R$ 7 mil. Tem gente que tira o dobro disso em mês ruim nas suas mídias diretas. 

7- Qual seria na sua opinião o grande diferencial do streaming?
Creio que seja a mobilidade de você assistir em qualquer lugar com uma internet que suporte. Muitas vezes, você está na rua, no Uber, em qualquer outro lugar que não tenha televisão, um jogo legal ou um evento ao vivo importante acontece –e a TV aberta não pode derrubar a programação. O streaming é livre e não linear. 

8- Por que o streaming se popularizou tão rápido?
Justamente pela popularização da internet. Quanto mais a internet for popular no Brasil, mais streamings vão existir. Acho que por uma questão de valor, nem todos os players devem insistir nisso. Não tem demanda financeira para todo mundo se dar bem. 

9- Por que o futebol tem sido o grande carro chefe das plataformas de streaming para eventos ao vivo?
Por que, assim como na TV aberta, o futebol ao vivo é o grande catalizador de massas. Os maiores índices da TV aberta em 2022 foram jogos do Brasil na Copa do Mundo, superiores a 50 pontos de audiência –houve lugares que chegaram perto dos 70, como Belém. Futebol ao vivo junta público, faz mobilizar. Não tem nada mais atrativo. 

10- Como a diferença de linguagem do streaming para a televisão impacta na busca de audiência/assinantes?
O streaming consegue ser mais libertino, sem tanta preocupação com termos, com jeitos, em ser tão pasteurizado, ensaiado. Muita gente prefere algo mais próximo do que se vê no dia a dia. Nos principais players, tem um investimento muito grande em formato mais próximo do cinema. Acho que esse impacto de qualidade muito alta e linguagem sem tanta pasteurização é o que diferencia da TV convencional.   

11- Você acha importante essa nova distribuição de plataformas para a transmissão de eventos esportivos?
Totalmente, pelo fator que falei anteriormente: a grande mídia mais tradicional não comporta tantos eventos, e o mercado fica mais aberto e menos restrito. 

12- Você acredita que o streaming vai substituir a TV ou eles irão caminhar juntos?

Sem dúvida vão caminhar juntos, porque hoje isso já acontece. Um exemplo: no Brasil, especialmente no interior, a TV aberta ainda é muito mais popular que uma Netflix ou Paramount+ da vida. Porque é fácil: basta uma antena que uma qualidade em alta definição chega. Mas o streaming tem um conteúdo que, por diversos motivos, a TV aberta não sabe fazer hoje. É um complemento muito saudável para a mídia como um todo. Assim como o rádio e a TV andaram juntos por mil anos, o mesmo acontecerá com o streaming.

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